Por Emily Sobral
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É preciso ficar claro que nem toda nova tecnologia é 100% do bem. Aliás, uma coisa não tem nada a ver com outra. A nanotecnologia, que é a capacidade de manipular materiais numa escala mil vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo, deve ser vista com cautela. Até pode parecer uma invenção bastante benéfica ao ser humano quando, por exemplo, a nanotecnologia é utilizada para levar medicamentos a células cancerígenas, impedindo que as saudáveis sejam atingidas.
Também, recentemente, cientistas brasileiros criaram nanopartículas que podem inativar o HIV. Porém, o avanço das nanopartículas utilizadas no mundo e no Brasil, como matéria prima nos diversos setores econômicos, requer ainda total desconfiança. Mas será que estou sendo antiga e atrasada, criticando uma tecnologia que pode revolucionar os padrões produtivos? Não, caro leitor! Aqui, como nosso papo é com a saúde e segurança dos trabalhadores, sugiro que a nanotecnologia seja vista com o pé atrás.
Mas, reconheço que não posso inferir de forma taxativa sobre os riscos da nanotecnologia. O que faço é colocar o assunto em pauta e trazer o que diz a pesquisadora da Fundacentro, Arline Arcuri, coordenadora do projeto de pesquisa da entidade sobre nanotecnologia: “Os investimentos em estudos toxicológicos nessa área ainda são precários”, afirma Arcuri. A falta de pesquisa mostra que não se conhece ainda quais os efeitos da manipulação por trabalhadores desses materiais em escala nanométrica. Ora, se as doenças tradicionais, como, por exemplo, a dermatose ocupacional, ainda encontra dificuldade para se estabelecer o nexo entre a lesão de pele e a atividade profissional, suponha uma patologia qualquer que atinja o trabalhador que manipula as nanotartículas!
Arcuri argumenta: “Hoje, já é difícil o médico reconhecer uma doença ocupacional, mesmo na indústria química, que utiliza produtos tóxicos sabidos há mais de 100 anos, como é o caso de benzeno, imagine as novas doenças que poderão começar a aparecer por causa dos produtos da nanoescala, se nem o médico nem o trabalhador sabem que a indústria mudou a escala do produto. Na verdade, há grandes incertezas quanto aos possíveis efeitos da nanotecnologia sobre a saúde do trabalhador”, afirma. O que se sabe é que elas têm um comportamento muito diferente do mesmo material em escala maior, e os próprios cientistas ficam surpreendidos pelas propriedades que são descobertas. Quando se fala em nanotecnologia aplicada a cada tipo de indústria, pode-se imaginar que cada tipo de produto corresponde a um risco completamente diferente. Segundo ela, na indústria de plástico, o sistema de exaustão existente como proteção coletiva é ajustado aos polímeros em escala normal, para proteger do material particulado que prejudica a saúde. No entanto, esse mesmo sistema de exaustão não será suficiente para proteger o trabalho com as nanopartículas, que sequer são visíveis. “Estudos mostram que algumas nanopartículas entram no corpo, e o sistema imunológico não é capaz de reconhecer que algo agressivo entrou”, conta. Nesse momento de incerteza e poucos investimentos para conhecer os efeitos toxicológicos da nanotecnologia, Arcuri sugere que o trabalhador adote o princípio da precaução: “Quando não se tem certeza absoluta de que o produto não é perigoso, deve-se fazer todo o possível para não ter contato com ele”, diz. Bem, o problema está posto. Entendo que a solução será por meio de pesquisa e do interesse isento e em prol da saúde do ser humano.
Super interessante! Aprendi um monte! Obrigada, Emily!
Existem pesquisas que mostram o potencial poluente das nanopartículas e como elas podem podem afetar o meio ambiente e a saúde humana numa escala bem perigosa. Parabéns pela matéria.
A partícula é pequena mas devemos tomar muito cuidado porque os danos podem ser bem grandes.
Parece que a nanopartícula é uma arma de 2 gumes
Os dermatologistas estão preocupados com algumas nanopartículas utilizadas em cosméticos que podem penetrar na pele e entrar na corrente sanguínea. É preocupante mesmo!
Acho um tema complexo e ainda novo. É preciso haver mais divulgação sobre pesquisas e pesquisadores, além dos da Fundacentro.
Nào devemos demonizar a nanotecnologia pois ela é uma das áreas mais promissoras da medicina moderna. Nem por isso devemos deixar de ter cautela, pois existem efeitos nocivos como tudo nesse mundo de deus.